Área onde destroços de navio foram descobertos é isolada

Por Settaport em 23/08/2017

Depois de dias nublados e com chuva, quem aproveitou o tempo firme para caminhar na praia de Santos se deparou com um cenário diferente na manhã desta quarta-feira (23). A descoberta de destroços de um novo navio, junto ao Canal 5, chamava a atenção de quem passava pelo local, que já foi isolado pela Prefeitura. 

 

Mas, enquanto muitos demonstravam surpresa, havia quem garantisse já ter visto os restos da embarcação naquele local, há muitos anos. "Mudei para a Ponta da Praia em 1958. Eu tinha uns 12 anos. Quando andávamos na praia, não era extraordinário ver o casco desse navio. Era aqui, depois do Canal 5. Já aparecia uma parte", afirma o aposentado Sérgio Gomes Ferreira, de 71 anos.

 

Já o apresentador de TV João Carlos Freire de Lima, de 46 anos, disse que nunca tinha visto nada no local. ''Caminho há mais de 20 anos aqui, moro no Canal 6 e nunca vi isso. Já vi a maré recuada, mas nunca imaginei que haveria um navio. Fico surpreso com a natureza, de levar a areia e mostrar que nossa cidade tem história". 

 

 

Essa também foi a primeira vez que o aposentado Ben Hur, de 65 anos, viu os destroços da embarcação na orla. “Eu moro bem aqui em frente e da minha janela vi a movimentação em torno. De longe, até pensei que pudessem ser pedras, mas chegando mais perto, a gente percebe que realmente pode ser o casco de um navio. Já estou aqui no Litoral há 20 anos e nunca soube dessa embarcação”.

 

O consultor de Recursos Humanos, Rafael Cavalcanti, de 25 anos, estava correndo pela orla quando se deparou com os destroços da antiga embarcação. Surpreso, ele foi abordado pela Reportagem quando fotografa a região, já isolada. 
 

“Estou sempre caminhando aqui e pra mim isso realmente foi algo inédito. Fiquei pensando, já passei tanto por aqui, entrei na água e nunca imaginei que pudesse ter aqui embaixo uma embarcação naufragada. Tem muita história que a gente desconhece da Baixada Santista. Fiquei curioso em saber o que pode ter ocorrido aqui”. 

 

Vapor Glória 
 

Autor do livro Naufrágios do Brasil, o jornalista José Carlos Silvares esteve no local onde os destroços foram localizados. Para ele, os restos podem ser da embarcação Vapor Glória, que encalhou na praia em 1909 e que já foi retratado pelo pintor Benedicto Calixto.
 

“Esse encalhe, com certeza, aconteceu antes da construção do canal, porque vendo aqui você percebe que ele avança para cima do canal. Parece também que a proa do navio está virada para a Ponta da Praia. Como bate com o quadro do Benedito Calixto de 1909, até mesmo pelo tamanho, que deve ter entre uns 50 ou 60 metros no máximo, tudo leva a crer que seja a mesma embarcação”, explica o pesquisador. 
 

Segundo ele, pelo quadro do pintor santista, é possível ver ao fundo a Praia do Góes, em Guarujá, mesmo cenário onde os destroços foram localizados. “O quadro é exatamente como vemos aqui. Já ouvi outros relatos dessa embarcação no passado, mas ainda não sei a procedência. Como aqui no Porto de Santos temos cerca de 70 navios naufragados, os mais difíceis de encontrar são os que encalharam, como esse e o Recreio”. 

 

De acordo com a Prefeitura, os destroços foram descobertos na manhã de terça-feira (22), por funcionários da Terracom que faziam a limpeza diária. Nesta quarta, por volta das 10h15, a área foi isolada, quando a maré estava mais baixa. 

 

“Ontem, durante a limpeza na praia, que acontece todos os dias, funcionários da Terracom informaram a Prefeitura que haviam encontrado pedras estranhas na orla. Quando viemos, detectamos que eram destroços de alguma embarcação, mas como a maré já estava alta, não pudemos fazer nada”, disse a subprefeita da Orla e Intermediária, Fabiana Ramos Garcia Pires, ao afirmar que desde semana passada vem ocorrendo um intenso recuo do mar, com desassoreamento bastante acentuado.
 

“A gente tem sofrido um desassoreamento muito grande nos últimos anos, desde a Praia do Embaré até a Ponta da Praia. De 15 dias para cá, a maré recuou bastante e só ontem que ele apareceu. Hoje, cravamos escoras de madeira no entorno para fazer o isolamento da área e, estamos solicitando à Capitania dos Portos e a Marinha mais informações para identificar que embarcação é essa e quais providências serão adotadas”, conta a subprefeita, que acredita que o encalhe tenha ocorrido antes da construção do canal naquele trecho, em 1927. 
 

De acordo com informações da Capitania dos Portos, pesquisadores irão até o trecho, na tarde desta quarta-feira, para realização de perícia.  

 

Recreio

 

A poucos metros daquela área, um velhos conhecido dos santistas permanece com restos à mostra sempre em dias de maré baixa. É o navio Recreio, que encalhou na faixa de areia da Ponta da Praia, em 26 de fevereiro de 1971, após uma noite de forte temporal e mar revolto. Na época, a embarcação estava ancorada na Praia do Góes, mas se soltou e foi levada até o Canal 6.
 

“Naquele trecho, a gente mantém até hoje a sinalização e o isolamento da área. Alguns anos atrás, eles cortaram uma parte do ferro, mais ou menos uns 40 cm de altura e ele permaneceu enterrado, voltando depois a aflorar. Algumas pessoas falam de preservar a história e se a gente mexer, vamos alterar uma parte da história. Por isso decidimos só manter o isolamento”. 

 

Fonte: A Tribuna
(Foto: Alexsander Ferraz/AT)



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